Antonio Jadel

Entre Sonhos & Poesias, a realidade do dia-a-dia.

Textos


ILUSÃO DE ÓTICA (Clarice Lispector)

ILUSÃO DE ÓTICA (Clarice Lispector)

Como se fosse o brilho dum clarão,
     no escuro da imensidão que não existe;
como se fosse trégua,
     numa colheita-lide que por ora não persiste;
como se fosse breu,
     tomado de forma sensata dum jeito que não se permite;
como se fosse sede,
     vingada em verdades à um copo d'água que sorri triste;
como se fosse o grito em campanha,
     que nada à linha segue, contesta, reclama, ama, resiste;
... meus olhos beijaram tua boca, Clarice,
... meus dedos sentiram teu gosto, Clarice,
- completamente apaixonado, mesmo ao fedor do cigarro - 
pensando que te via e te entendia,
no contexto do tédio que vara a noite, 
e persegue o dia.
 
E eu sendo um pouco de ti (eu sei), conclamo,
amém, 
e tu nada sendo pra mim (eu sei), 
e pra ninguém, 
é na leitura de livros, que como e me farto a um banquete de festa de fim-de-ano. 

Mas vendo eu tua morte que ia,
por desengano, 
(sem mesmo ao tempo de conhecê-la) 
saindo do teu próprio corpo, em riste,
sorria,
e você 'penas sem dar tchau, séria, com apatia,
partia.

Loucuras à parte, eu sei que te amo, Clarice.
Porque assim decidi, um dia,
ser e sentir, você. 



obs: poesia feita em homenagem ao quase centenário de Clarice Lispector. Nada mais preciso dizer. Nada mais preciso explicar. Se-lhe toco ...
Antonio Jadel
Enviado por Antonio Jadel em 23/12/2019


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