ESCONDERIJO
ESCONDERIJO
Inóspito esconderijo,
tão perdidamente escondido,
que nem as sombras lhe encontram.
Estas, buscam a sorte pisando em ovos,
e ocultas diante da claridade,
perdem-se na volúpia duma não refletida vontade.
E o grito que se ouve - sem os timbres da voz - é de piedade...
Inóspito esconderijo,
lugar cinza e colorido,
como se fossem amigos do antagônico.
Onde o céu e o inferno almoçam juntos saboreando o mesmo prato.
Onde o espelho reflete o coito desacorçoado,
e a esfígie que se-lhe mostra,
sem qualquer estigma,
é a mesma cara oculta, provida de um bom senso, insensato.
De fato, lá no esconderijo (por dentro),
o perdão antecede a condenação,
o arrepio é do medo da descoberta,
o antemão sai da frente do que possa vir,
e entre portas fechadas (não abertas),
o sarro sentido é triste melancolia dum vício sem fim.
Mas gostoso...
Pois o gozo, assim,
é almejado e maquiado nas entranhas de uma mente que é sã,
vagante e não poluída,
apenas - talvez - um pouco arrependida,
sem ao menos saber o porque.
Inóspito esconderijo.
Onde não há ponto sem nó,
local que não há tese para o qual eu divirjo.
Por lá me detenho, me atenho, me tenho.
Enquanto isso, os santos me gritam à uma só voz:
- Cala-te boca, filho !
Regozija-te,
que o pai é provedor da sua existência.
Viva, apenas.
Antonio Jadel
Enviado por Antonio Jadel em 25/04/2018