HORAS QUE MORREM
Quero matar o meu tempo (nada fazer),
na ilusão de que algo melhor possa 'contecer.
E aí faço do dia o meu desatino.
Mas o que se mata na mente - não tem valor de assassínio.
Não é morte mas também não é vida.
Há um acesso. Há um declínio.
Fantasias, dirias...
Este então é falso.
Tal como o escrutínio,
que lança fé em doses homeopáticas (compradas),
por teses apáticas (negociatas),
em filas quilométricas (desgovernadas),
afronte ao batalhão de soldados (comandados)
e fiéis sem louvor: apátridas deste destino.
Nas horas vazias, sem parentes,
sem os pais. Talvez o nunca mais,
nem mesmo os pingos nos 'is' pra marcar um refrão.
Não se ouve nenhuma canção.
E o que pari (por eles), não vinga.
Pois não é de ninguém.
Estimula e ao minuto seguinte, foge.
E também não fica pra ceia...
porque cá aqui não está (é lógica);
e esta já não é mais farta (p'rece que tudo falta) - aqui é o ilógico,
e ainda assim, dos costumes ao contrário,
é servida em diferente fuso-horário.
Ah, o tempo...
Os planos são diabólicos,
mas entoados na catedral.
Que não tem sino,
nem comandante (padre, pastor ou rabino),
nem seguidores,
e não marca as horas.
As horas então, faltam.
Ausentes, destoam.
Paradas ao relógio do tempo,
enganam à quem lhe procura.
Não marcam nenhum momento.
Não há vestígios, apenas vertigens.
E num suspiro sortido dou o meu grito,
por elas,
pelo tempo,
pelas horas perdidas.
Mas (...) que nada adianta,
e nada conforta.
As horas então, destoam.
Paradas ao relógio do tempo,
vestem-se de perdidas,
marcam silêncio.
O que se deixou de fazer,
não tem idade ao regresso.
As horas...
Lamento: estão mortas!
Antonio Jadel
Enviado por Antonio Jadel em 02/01/2017