A FOME
Não seria um quase nada,
ao menos,
se tudo fosse um pouco correto,
num prato, na mesa,
distribuídos,
em variados grãos - o seguir - ao limite do certo,
do adequado e do necessário, na boca dos homens.
Mas a indecisão comanda o destino...
E o destino é traçado pelos homens de boa vontade...
E a boa vontade se declina em prol da econômica safra,
que engole voraz quem nada tem,
e oferta demais aos abastados, dando-lhe o vintém.
Sacrilégios gerais ao afirmar esta contradição.
Mas a verdade se estampa na publicidade. É o que vemos.
Sinto-me lânguido e nauseabundo.
A economia distoa o sentido dos homens (de má vontade),
tornando-os reféns de si mesmo.
Todos são (in)confessáveis vagabundos.
P'rece que não se vê trabalho sincero em favor do mundo.
Pois... se não se mata a fome,
ela vem e nos mata, consome.
Mas reza-se a missa aos domingos,
pra semana vindoura continuar a ser o que era...
E o que era (por infâmia),
tende a ser o de sempre, e o que sempre será.
A fome é amiga de quem a sente,
pois com ele, compartilha sua dor.
E continua presente, traçando laços com a humanidade,
laços de um mentiroso amor.
O melhor feito pra saná-la, promulgaria uma geral aptidão de sorrisos.
Em favor de tudo e de todos,
um beneplácito comum,
e o prato na mesa estaria cheio,
embora rachado, com fissuras da fome refugiada.
Poderia a 'puttanesca' fome estar escassa.
Condenada ao desaparecimento.
Desamparada de sua sorte.
Viúva do seu porvir.
Renegada ao esquecimento.
Sozinha na contramão.
Perdida num canto qualquer.
Carente do seu propósito.
Recebendo a sua extrema-unção, sem nenhuma dose de perdão.
Mas o que se vê é a parca distribuição da colheita.
Planta-se muito (trabalho),
Colhe-se muito (os frutos),
Divide-se pouco (entre o povo).
E aquilo que era justo, torna-se injusto,
na sua fé relutante,
e no falso amor (periclitante) que se auto-proclama ser bruto.
A fome?!
Não é só do alimento.
E é fácil de se dizer ou explicar.
Até mesmo no seu didático grau do poetar.
Sua doutrina já tem pós-graduação.
Todos por ela são estudados.
Mas, de antemão, que não se olvide o valor humano,
ao calor de um'a reflexão.
Difícil... é senti-la.
Antonio Jadel
Enviado por Antonio Jadel em 24/12/2016