DRÁCULA
DRÁCULA
Cai-se a noite na escuridão,
e os concordes da razão se escondem,
(sozinhos)
travestidos de fantasias no seu vulgar anonimato.
Os propósitos até que são bons,
revela uma vontade querida pra alma,
mas condensam-se na morfina que paralisa o pensamento.
E tudo se torna abnegado.
E tudo que é solto fica anestesiado.
E tudo se acaba caindo na vala comum.
Que é estreita pra se acomodar,
Que é larga para nela não se adentrar...
Pra dentro é que se puxa a força.
E dessa vala não se livra o alvará de soltura.
E a luta constante não se exaure.
... (pausas de uma intensa reflexão) ...
Feliz é Drácula,
pois de sua sorte se constroem fábulas,
filmes hollywoodianos,
joias raras (e caras) nunca utilizadas,
textos continentais em busca da sobrevivência,
e noções preliminares do sexo sem pudor.
Feliz é Drácula,
milionário excêntrico à sua sorte.
Torpe e amante fiel do sangue humano.
Assim se deleita,
Não morre,
Mostra sua fúria em tom de ironia.
Críticas não lhe atingem - pois ele é aquilo que é,
um deus na subversão,
vive sempre vivo nas memórias alheias,
ainda que em seu caixão fechado, ao qual todos querem abrir...
... e contemplar o seu belo sorriso, efêmero de poder.
Feliz é Drácula,
ele não tem vingança (pois já o é em si mesmo),
ele escolhe o que quer (quando, como, onde e ao seu porquê).
E nada do mundo ele tem a temer.
Nós homens humanos,
pequenos, insinceros, delirantes,
fracos do nosso intuito,
reféns do submundo,
é que não temos muito ao que escolher.
(...)
Um complemento desnecessário: e até que a morte nos chegue, tocamos o nosso modesto sobreviver.