O PÃO QUE O DIABO AMASSOU
O PÃO QUE O DIABO AMASSOU
Puseram-me à nobre ceia, o pão que o diabo amassou.
Resisti por um certo momento,
Mas entornei-me de louvores,
Fiz rápida oração,
Qualifiquei a ocasião,
E gratifiquei o alimento.
Comi-o, sem dissabores.
E diga-se de passagem, puxei-o pelo tridente,
Para comigo também se esbaldar.
E ele não quis... meio que acanhado,
Aos sorrisos do meu convite, não retribuiu.
Ele com medo de mim (e de si), fugiu.
O diabo faltou outra vez...
E a ceia foi feita em espúria fartura.
Sério que eu satisfeito à mesa daqueles horrores,
Fatos cotidianos pela podre guerra dos homens,
Aos comes & bebes dantescos (e o pão),
Vis violências políticas, cínicas,
Vilipêndios da fome alheia, coisas banais,
Outros escárnios à mais,
E pecados originários normais,
A tudo isso eu engoli...
E o pão amassado que muito eu comi demais,
A tudo isso, muito me alimentou.
Acreditem... deteriorado por dentro e por fora,
Tornei-me mais sábio,
Sólido e quieto, sincero.
Sereno, sensato e santo.
E à uma próxima ceia de luz,
Quem sabe...
Com ele (o diabo) ou não, na presença da mesa,
Sutilezas & gentilezas.
Não haverá pra mim mais enganos.
Desta vida em terra, pelo pão amassado que eu comi,
Por tudo que eu vi e vivi,
Acabou-me deveras o espanto.