CONVENIÊNCIA DO TEMPO
CONVENIÊNCIA DO TEMPO
Ele pegou o retro-projetor,
Procurou slides antigos. Viu imagens, mentalizou.
Datilografou um lindo texto (sem ao menos fazer correção),
E com a cópia dum papel carbono, guardou.
O original, reproduziu...
Naquele sujo mimeógrafo com cheiro de álcool.
Distribuiu à todos, amiúde.
E aos contatos telefônicos, de fio a pavio - fios enrolados e dedos discados,
Chamou a telefonista... deixou recado anotado,
Folheou as páginas amarelas,
E fêz seu marketing no jornal de bairro.
Ele fez tudo que podia fazer; na conveniência do seu tempo.
E até hoje o romance gravado ficou. Perdurou...
Porque foi muito mais que procedimentos (que mudam),
Foi essência da sua energia.
Foi mérito.
Foi seu quinhão.
Foi seu suor que pingou no chão.
Foi em vida a conveniência do que se podia dizer (e fazer).
E o best-seller da sua memória rendeu-lhe pratas do consumismo.
Não fôra ao revés, eufemismo.
Hoje ele se foi (ontem);
O escritor virou pó.
Espiritualizou-se... e deixou de ser vaga matéria.
Mas sua obra não há de morrer.
A essência do que é belo sempre fica.
Por todas as conveniências do tempo - etapas do bem-viver,
Aquele romance - uma vez lido - dele jamais poderá se esquecer.
Antonio Jadel
Enviado por Antonio Jadel em 14/09/2016