ANESTESIA
ANESTESIA
Tive imbróglios imaginários,
Síncopes sentimentais,
Danos dogmáticos,
E fúteis fraquezas da minha fineza.
Sou uma alma sem dor.
Embora peço socorro alheio,
Vivo de lamúrias alegres,
E sorrisos forçados.
Convivo com a alegria e a nostalgia,
E uma melancolia trancada no peito (pra nunca se abrir),
Não fumo rancores.
Não bebo lágrimas nem as gotas das chuvas de verão.
Não sei se tenho amores,
Porisso à ninguém outorgo perdão.
Não sou pobre na acepção jurídica da palavra
(assim dizem os causídicos),
Sou rico dos meus anseios e desejos.
E vivo atônito, de mim mesmo e dos outros,
Do mundo afora e do segredo de aqui dentro,
Não sou de direita, nem esquerda.
E não vivo no centro.
Minha imagem é incandescente,
as vezes decente, por ora indecente.
Acho que as vezes me sinto tangente,
pois saio buscando alforrias e prazeres de maresias.
Vivo enfim, dentro de mim,
De tudo que um pouco sofri,
- com uma alma sem dor -
Em completa anestesia.