A LIMPEZA
A LIMPEZA
Faço limpeza, de modo constante,
As vezes, a todo instante.
Rasgo papeis, milhões deles, papeis em demasia.
Pago contas, confiro datas.
Check-list na agenda. Anotações sem autoria.
Fotografias passadas, plásticos afora.
Tudo me vai embora.
Poeira recolhida.
Vasos quebrados ao chão.
Adornos sem mais intuição.
Pastas encalhadas, vestígios do nada.
Tudo me vai embora.
Talheres doados. Roupas em desuso.
Brinquedos do passado, nada de conteúdo.
Livros desatualizados. Histórias do passado.
Escritos de outrem (que nem me lembro mais).
Bilhetes e recordações. Desenhos infantis.
Tudo me vai embora.
Tudo limpeza pro lixo.
Mas sendo meio prolixo,
percebo que algo me falta. Pergunto-me então:
Cadê os sentimendos escondidos, que não estão no refrão?
... as mágoas, as dores (feridas), os pesares, o perdão ?
Tudo isso também há de ser limpo,
No sofrimento do coração.