A representação de um sentimento
se dá na lágrima de um momento.

Uma lágrima de amor, uma lágrima de dor.
Uma lágrima de espera,
escorre ao rosto de quem sonha, imagina, quimera.

Uma lágrima para cima, para baixo, ao lado...
... uma lágrima de quem respira, busca algo, e nada acha.
Um espírito cansado.

Uma lágrima aos sonhos de tudo, um pouco, ao nada.
Uma lágrima da moça feia, desencantada.
Do rico que ironiza,
do pobre que não tem nada...

Uma lágrima que expõe à vida ao belo, ao intermédio, ao feio.
Uma lágrima do sentimento posto de lado,
sem retorno, à escanteio.

Uma lágrima de emoção...
pode ser falsidade, alegria, mentira, euforia...
sentimentos do coração,
ao léu, em vão...

Uma lágrima do vínculo rompido.
De algo desprotegido, ao relento, sem calor, sem amor,
totalmente despido...

Uma lágrima à pequenez da humanidade, pela ofensa alheia,
violência, e a falta de perdão.
Algo que escorre no rosto do homem,
e mergulha do infinito da sua insensata solidão.

Uma lágrima aos nossos votos com devoção,
lágrimas molhadas, em chuva intensa, raio, trovão.
Lágrima do infinito.... e do grito de campeão.

Lágrima à Deus, ao consolo de nossas dores, angústias e tristezas... que assim seja,
principalmente ao consolo dos sonhos meus.

Uma lágrima da lágrima dos olhos carentes, vertentes, e penitentes.
De um mundo sutil, cruel, vilão,
sem tempo, incongruente.
Uma lágrima que nem sempre acolhe a alegria da gente.  

Lágrima de um rio, lago, cachoeira...
que escorre na selva, nas matas, pedras e ribanceira da natureza.

Uma lágrima na lágrima de uma outra lágrima.
Em lágrima, com lágrima... tristeza, felicidade.
Saudade, posteridade, eternidade.
Em lágrima me apanho ver com o passar da minha idade.
Assim me chega a clareza da maturidade.

Lágrima doce-salgada... lágrima de prosperidade, ou vida malvada.
De choro e empecilho...
com ironia à lágrima de crocodilo.
Uma lágrima do carinho e ao conforto do aconchego.
Lágrima do ninho.

Em lágrima me conforto,
em lágrima me aporto.

Ao fim, consagra-se a sorte:
- saber que não se vê lágrima na face de quem ficou a nos ver deitado,
ao descanso da inesperada chegada da morte.